Entenda por que a Crimeia quer e deve ser russa
Compreender o que se passa na Crimeia pela mídia brasileira, pautada por agências de notícias ocidentais, é praticamente impossível; nesta semana, por exemplo, enquanto Época fala do "risco Putin", Veja pergunta "até onde ele é capaz de ir"; no entanto, a realidade da região, onde 97% das pessoas falam russo e sondagens iniciais revelam que mais de 60% são favoráveis à anexação à Rússia, é bem diferente; além disso, região é autônoma e desejo da população deve prevalecer no plebiscito marcado para o próximo domingo; vídeo
9 de Março de 2014 às 11:14
¶ 247 - É possível compreender o que se passa na Crimeia, epicentro da nova "Guerra Fria" entre Estados Unidos e Rússia, lendo o noticiário da mídia brasileira? Definitivamente, a resposta é não.
Seja por alinhamento incondicional aos Estados Unidos ou por comprar o noticiário de agências ocidentais, como a Reuters, a imprensa brasileira abraça, sem viés crítico, os posicionamentos que atendem à visão norte-americana. Assim é, por exemplo, que enquanto Veja pergunta em sua edição deste fim de semana "Até onde Putin é capaz de ir", Época destaca em sua capa reportagem sobre o "risco Putin", acusando o premiê russo Vladimir Putin de tentar remontar o antigo império soviético.
A realidade da Crimeia, no entanto, é bem distinta. Além de ser uma província semi-autônoma da Ucrânia, ou seja, com maior independência do que um simples estado ou província, a Crimeia tem uma população que defende, majoritariamente, a anexação à Rússia. Lá, 97% das pessoas falam russo e mais de 60% se mostram favoráveis à anexação, que será definida num plebiscito no próximo domingo 16.
Num vídeo esclarecedor, feito pelo canal Russian Times (assista aqui), moradores de cidades da Crimeia explicam por que querem fazer parte do estado russo. Em primeiro lugar, alegam que o novo regime da Ucrânia não tem legitimidade, pois é decorrente de um golpe e não de eleições diretas. Além disso, apontam a ascensão de grupos e extrema-direita – e de caráter fascista – na nova administração de Kiev. Em terceiro lugar, temem por suas raízes culturais. Sites do governo, que antes eram em russo e ucraniano, aboliram o idioma russo. Há o temor de que canais de televisão russos também sejam retirados do ar. Por último, há também a questão econômica. Na Crimeia, a grande maioria da população enxerga melhores perspectivas de salário e bem-estar material fazendo parte da Rússia – e não da Ucrânia.
No domingo, quando for realizado o plebiscito, essa realidade virá à tona. E se os Estados Unidos defendem tanto a legitimidade de manifestantes que foram às ruas em Kiev e derrubaram um governo democraticamente eleito, por que não deveriam também defender a soberania popular na Crimeia?
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